segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Pequeno Ditador – Da criança mimada ao adolescente agressivo


O psicólogo Javier Urra, defensor das crianças e jovens e que trabalha há mais de 20 anos com crianças conflituosas, vem com este livro ajudar os pais para que não temem os seus filhos e para que estes não sofram uma errada ou nula educação. Este autor ensina-nos os três pilares fundamentais para educar os nossos filhos: Autoridade, Competência e Confiança.

É preciso educar no respeito e afeto, transmitir valores, falar com as crianças, ouvi-las, ensiná-las a aceitar as frustrações, impor limites e exercer a autoridade sem medo. É preciso recorrer a ajuda especializada sem vergonha”.

Para refletir passo a citar uma passagem deste livro:
(…) As crianças que têm uma atenção excessiva frequentemente não conseguem ser independentes e aborrecem-se quando brincam sozinhas (…). A criança requer tempo livre para que aprenda a responsabilizar-se pelas suas próprias atividades e é necessário que a criança se aborreça para que gere outras ideias”.



segunda-feira, 22 de abril de 2013

A história da minha família e os seus membros de 4 patas


Ler a publicação da semana passada e o artigo de Froma Walsh sobre os membros da família de quatro patas, para além de ter sido uma delícia, fez-me pensar na minha própria experiência nesse campo, que hoje partilho aqui convosco na esperança de exemplificar na prática o que foi escrito a semana passada.

Tal como a autora da referida publicação, os animais de estimação, no meu caso os cães, desde cedo fizeram parte da minha vida. O primeiro cão que tive chamava-se Paquito e tinha claramente como função proteger-nos e à nossa casa de possíveis intrusos, a relação de afectividade com ele era muito pouca. Quando este cão morreu, tendo eu recebido a versão infantil do acontecimento, “ele fugiu...”, arranjamos o Tim-Tim. Tal como o Paquito, o Tim-Tim era um típico “cão das vacas” (como se diz por cá nos Açores) e a sua função era a de nos proporcionar segurança na nossa própria casa. O terceiro cão que tivemos, um cão traçado de caniche chamado Cajú, transformou o nosso relacionamento com os cães, ele tornou-se claramente um elemento da família com direito a ter a sua caminha dentro de casa, a ter mimos, a ter hábitos que todos respeitávamos e até a viajar connosco nas férias!! Posteriormente, tivemos ainda um pastor-alemão, o Wisky, que veio substituir o Tim-tim na sua função de proteção mas com quem já estabelecemos uma relação afectiva muito maior.

Da minha infância saliento, para além da companhia, a função protetora que muitas vezes é depositada nos cães e quão importante é esta função para o nosso bem-estar. Para além disso, e tal como é referido no artigo de Walsh, a morte do Cajú representou, para mim, a primeira perda de alguém significativo, com esse acontecimento aprendi a chorar alguém querido, a ter de me lembrar que não era possível estar a ouvir as patinhas dele a andar na tijoleira, pois ele já ali não estava, fui incapaz de visitar ao local onde o enterraram, juntamente com a sua cama e coberto na sua mantinha, tal como era incapaz de ir aos cemitérios. Passado algum tempo, aprendi a aceitar o que acontecera e a arranjar estratégias para ultrapassar essa dor. Outra situação curiosa que o artigo também refere é o facto de me lembrar do aniversário dos meus cães e de lhes oferecer um ossinho ou um brinquedo, de igual forma no Natal, a título de brincadeira, damos prendas em nome dos nossos cães!

A minha vida continuou e mantive a convicção “Quando for grande quero ter cães!”. Assim foi, já adulta, passado um mês de eu e o meu namorado estarmos a viver juntos recebi a melhor prenda de Natal de sempre dos meus pais e irmã, um labrador amarelo chamado Snickers. Tal como refere Walsh no seu artigo, com o crescimento do Snickers aprendi a acompanhar as diferentes fases do seu desenvolvimento, desde o tipo de alimentação correta em cada idade, o cair dos dentes, os brinquedos, as regras, as responsabilidades, os castigos, os deveres … O que hoje mais recordo dessa época é o sentimento de felicidade imensa que sentia quando chegava a casa, depois de ter um dia péssimo, e o via claramente feliz, a abanar a cauda, dirigindo-se para mim.
Recentemente, adoptamos uma cadelinha traçada de caniche e podengo, a Nina. Dei por mim com ela ao colo e tentando orientar o Snickers a fazer ou não fazer algo, pensando “Credo pareço mesmo uma mãe de 2 filhos”. Dizia muitas vezes a familiares e amigos “Parecem mesmo crianças, isto é um treino para ter filhos!”, mas sempre com algum receio que me achassem maluca por comparar um cão com uma criança, embora várias amigas confirmassem também sentir o mesmo.


Se a nossa relação com os nossos animais de estimação serve para aprendermos coisas sobre nós próprios, de igual modo, permite-nos conhecer melhor os outros, por exemplo, quando observo o meu namorado a interagir e mesmo falar com os nossos “patudos”, quando partilhamos as preocupações com eles, as idas ao veterinário, penso automaticamente “Ele vai dar um óptimo pai!”.

O artigo da Froma Walsh, ao explicar que esta relação humano-animal, veio confirmar que a minha experiência e os meus sentimentos (com certeza os de muitas outras pessoas) são reais e normais, que ter animais de estimação ajuda a preparar o nosso futuro, nos ensina e treina para diversas coisas e permite adquirir ferramentas importantes para o nosso dia a dia e para a relação com o outro. Para além disso, agora já posso explicar cientificamente à minha mãe esta adoração por animais quando ela me voltar a dizer “Mais um cão...assim nunca mais tenho um neto!”. :)

C.T

quarta-feira, 10 de abril de 2013

“Os nossos animais: membros da família, de quatro patas”


Um cão reflete a vida familiar. Quem é que já viu um cão brincalhão numa família taciturna, ou um cão triste numa feliz?” Arthur Conan Doyle


Ele reconhecia que eu estava triste, só pela forma como eu me aproximava dele, e isso incomodava-o. Suspirava, e olhava para mim com ternura, contrariamente aos momentos em que eu me aproximava dele feliz – nestas alturas ficava eufórico! Poderia estar a descrever uma interação com um companheiro, marido, pai, filho... Mas não, estou a descrever a minha relação com o Quicky, o meu já falecido cão.

Se eu escrevesse a história da minha vida, incluiria garantidamente os animais que tive, porque todos eles representaram algo para mim e ensinaram-me alguma coisa. Sempre senti que os animais exerciam uma função muito importante na minha família e na minha vida: na infância, eram companheiros dos momentos de brincadeiras e ensinaram-me a cuidar do outro; na adolescência, foram meus “confidentes” nas crises típicas desta fase, e a sua companhia numa caminhada era terapêutica; por algum motivo, quando me autonomizei, adotei uma gata, que exerce um grande papel na minha vida.

O artigo “Human-Animal Bonds II: The Role of Pets in Family” (em português, “Os Laços entre Humanos e Animais II: O papel dos animais de estimação nos sistemas familiares e na terapia familiar”), de Froma Walsh - online em http://universalhealing.vpweb.com/upload/Human-Anima%20Bonds%20II_%20Walsh.pdf - descreve os animais como elementos da família, que desempenham um papel no seio da mesma e em cada indivíduo. Segundo este artigo e os autores citados (Cain, Bateson, Cohen, entre outros) os animais de estimação desencadeiam um conjunto de interações que podem potenciar virtudes individuais e familiares, sugerindo até a inclusão dos animais em contexto de sessões em alguns casos específicos – algo em que Sigmund Freud foi pioneiro.

Passo a traduzir um excerto deste artigo: «Os jovens adultos, solteiros ou casais, frequentemente escolhem criar animais antes ou em vez de serem pais, ganhando assim habilidade para providenciar cuidados, afeto, colocar regras e limites e preocupar-se com outro ser vivo. Na meia idade, muitos pais cujos filhos estão a autonomizar-se viram-se para os seus animais de estimação, ou adquirem um novo, para preencher um vazio. Uma mãe, após os seus dois filhos mudarem-se, adquiriu dois cães. Quando os cães desenvolveram um laço forte entre si, tal como os filhos, os amigos elogiaram-na por educar tão bem os cães como os filhos.(...) Os animais de estimação são frequentemente a “cola” que mantém os elementos da família unidos e coesos (Cain, 1984). Eles melhoram a vida familiar promovendo maior interação e comunicação.

Quase metade das familias relataram que o seu animal de estimação recebe a maior parte do toque, olhar, palavras, sorrisos e gestos da família. É mais fácil focar a atenção e afeto num animal de estimação do que num esposo ou noutros membros da família. Num estudo sobre padrões de interação social no quotidiano dos casais, Allen (1995) descobriu que os casais com cães tinham um maior bem-estar, e aqueles com um maior vínculo e relação de confiança com os seus cães tinham uma relação mais duradoura. Curiosamente, falar com os cães para além do companheiro(a) está relacionado com uma maior satisfação com a vida, com a relação conjugal e uma melhor saúde física e emocional. (…) Na avaliação familiar, pode apurar-se muito acerca dos padrões relacionais questionando os elementos da família acerca dos seus companheiros animais. Apesar dos clientes poderem inicialmente ficar surpreendidos com o interesse do terapeuta, as pessoas que têm animais de estimação respondem com descrições da sua relação com aqueles. As suas histórias podem revelar informações importantes acerca da organização do sistema familiar, da relação de casal, da comunicação, dos processos de resolução de problemas, e das estratégias de coping com situações de stress. Detetar comportamentos de mau trato deliberado, ou vê-los ser negligenciados aquando de visitas, pode sugerir risco ou negligência não divulgada de membros da família, porque eles frequentemente coexistem. A crueldade das crianças para com os animais pode ser um indicador de outro mau trato existente na família, e é um fator de risco precoce de uma futura violência face outras pessoas.»

Sugiro a leitura do artigo, que pode abrir os olhos para a importância destes elementos da família, muitas vezes esquecidos na construção de um genograma/ história familiar.