segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Crenças, convicções e Dependência



“Não posso viver sem ti”.
A categoria de crenças e convicções, é um pouco particular, na medida em que reúne de modo específico todo um feixe de crenças e convicções sobre si mesmo, sobre o outro, o amor, a relação, os homens e as mulheres. Trata-se de uma interacção de certezas que instalam processos de dependência no casal ou de co-dependência.
Na dependência existe uma pessoa dependente e um “fornecedor do objecto de dependência”. Se tomarmos como exemplo as condutas aditivas tal como a toxicodependência, deparamos com a pessoa dependente (o doente toxicómano), com o fornecedor (o vendedor) e com o objecto de dependência (o produto). Numa relação amorosa o esquema é o mesmo. Quando uma pessoa afirma: “Preciso de ti”. Está numa situação de procura e espera que o outro se torne o seu fornecedor de bem-estar, qualquer que seja a sua forma: sentimento de existir, de ser “uma pessoa bem”. Quanto ao fornecedor, este precisa na co-dependência- de poder desempenhar esse papel e de se sentir indispensável- é essa a sua razão de ser.
Uma codependência pode tornar-se depressa um suplício quando a pessoa dependente vive uma tortura quotidiana, face à ideia de uma ruptura potencial. Se o seu fornecedor deixar de lhe fornecer o objecto de dependência quem o fará? Quem responderá à sua procura? Quem poderá satisfazer as suas expectativas? A pessoa dependente tem a particularidade de estar persuadida que não consegue encontrar em si mesma os recursos para sobreviver à falta de produto, ideia que, por si só, a aterroriza.
Não haverá “algo que não bate certo” na ideia que consiste em pensar que “sem ele não me posso sentir completa”, “sem ela eu não sou nada”, “a minha felicidade só depende dele”, “ sem ela, a minha vida não valeria a pena ser vivida”? Frequentemente é por julgarmos precisamente que não podemos viver sem uma certa pessoa que somos geralmente incapazes de viver bem com ela.
Às vezes, os fornecedores estão cansados e, sobretudo, como na toxicodependência, é preciso ir aumentando as doses para evitar a aparição da síndrome de abstinência. O dependente pede cada vez mais, a quantidade nunca lhe chega (é o fenómeno de habituação), a sua ansiedade cresce e o fornecedor arrisca-se a ficar esfalfado. Mesmo que ele precise deste pedido para ter uma razão para existir, acontece-lhe sentir-se ressentido quanto é tão solicitado que não dispões mais de tempo ou energia para se ocupar, um pouco que seja, de si próprio.
(…)
Entre os parceiros tece-se então um imbróglio de laços e de emoções que, por vezes, acabam por criar uma confusão entre o sentimento amoroso e esta situação de dependência.
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                                                                                              “Viver bem a vida de casal” (Pag.128-130)

                                                                                                              Tenenbaum, Sylvie; Carlos Oliveira

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